segunda-feira, 9 de abril de 2007

E se?...

Gosto de ponderar os ses todos. Hoje ocorreu-me mais um. Quer dizer, já tinha pensado nele antes, mas hoje faço questão de o registar aqui, como pegada em cimento fresco, para que um dia mais tarde não venha o dito a passar por não dito.

E se a minha segunda gravidez não chegar a acontecer? Se lá para Dezembro estiver tudo na mesmo? Se isso acontecer, aconteceu. Ponto. Não há por que desesperar, ou considerar outras saídas. Este segundo filho não é uma causa desesperada. Nem eu nem o pai o vemos como uma prioridade a concretizar a todo o custo. Talvez por a primeira nos custar tanto a criar, talvez por passarmos as passas do Algarve para lhe dar aquilo que consideramos o mínimo indispensável, talvez por não nos passar pela cabeça demitirmo-nos da nossa condição de pais nem por um segundo, talvez por os seus primeiros meses de vida terem representado um verdadeiro terramoto nas nossas vidas... talvez por tudo isso, a ideia romântica e idílica de conceber um filho passou à história. Para nós, agora, a concepção de um filho tem muito mais de aventura toldada pelo peso da responsabilidade, do que de sonho alimentado por um imenso AMOR, que de tão grande já não nos cabe nos corações e precisa de desdobrar-se num novo ser. O AMOR continua imenso, bem entendido, mas sentimos que a filha que já temos o absorve como um mata-borrão à beira da tinta derramada. De forma que um novo filho não é já sentido como uma necessidade vital, mas simplesmente uma busca lúcida de equilíbrio, que consideramos importante na vida em família. Digamos que não nos agrada a ideia de vê-la crescer como ÚNICA, nem deverá ser muito saudável fazer dela uma barragem sem comportas, a rebentar com todo o AMOR, que é em nós uma termenda energia, renovável e inesgotável. Não é bom. Um irmão representaria aqui, com toda a certeza, o equilíbrio de que precisamos, os três. Ele, que terá direito também à sua cota parte de energia retida, aprendendo a abrir comportas quando assim tiver de ser. A ideia de sermos uma barragem de águas paradas não nos seduz, não queremos correr esse risco, queremos antes ser um rio, ora mais rápido, ora mais pacato, certos de nos virmos a entregar ao mar, um dia.

Para todos os efeitos, fica a impressão em cimento: se a segunda gravidez não acontecer dentro de três anos, deixaremos de esperar por ela, assim, com toda a serenidade, sem mover mais uma palha que seja, e dar-nos-emos por completos. Afinal de contas, há comportas que nunca rebentam e na sua plenitude vão iluminando cidades inteiras.

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